Há cerca de vinte anos, existia um partido político (PSR) que não permitia que determinadas personagens viessem a Portugal em paz e sossego, como quem passa férias num qualquer recanto mais ou menos paradisíaco. Figuras como Le Pen ou Li Peng levaram para casa algumas recordações menos agradáveis. Vem isto a propósito das reacções que os membros do Governo têm enfrentado um pouco por todo o país. O caso particular de Miguel Relvas parece-me exemplar.
Um ministro que começou por ser motivo de chacota nacional, tornou-se um símbolo de tudo o que uma sociedade moderna despreza e que as medidas de austeridade exponenciam. O facilitismo e chico-espertismo que revela desde o caso da licenciatura, passando pelo caso Rosa Mendes, o processo RTP ou a forma como defendeu o secretário de Estado com currículo BPN, são exemplares da forma de 'ser' Miguel Relvas.
Neste contexto, não surpreendem iniciativas como as que ocorreram no Clube dos Pensadores e no ISCTE. Também não surpreende a reacção oficial da TVI e, ainda menos, a do Governo. Ataque à liberdade de expressão, disse-se. Será?
O cidadão Miguel Relvas e o Ministro Miguel Relvas são uma e a mesma coisa? Não. O cidadão Relvas não seria convidado da TVI, mas o ministro sim. A expressão "direitos adquiridos" faz sorrir os que seguem a cartilha do poder. Não é a liberdade de expressão um direito adquirido? Não é de um simbolismo tremendo que esta seja negada aqui e ali a quem vem tirando tanto a tantos ?
O "politicamente correcto" tem sido arma de arremesso de uma certa direita sobre uma certa esquerda. Para que fique claro, di-lo-ei com todas as letras. Não. Não acho que o ministro Relvas tenha o direito de ir discursar numa conferência, como se fosse um orador como outro qualquer. Não. O ministro Relvas continua no Governo porque não tem um pingo de vergonha na cara e o PM um par de testículos condizente com a função. Assim, qualquer cidadão português tem o direito de lembrar publicamente ao ministro e a quem quiser ver, que a sua presenca no governo é uma vergonha ímpar na democracia portuguesa.
Ao discurso 'o homem nunca foi condenado por coisa nenhuma', impõe-se uma exigência ética combativa.
"Afronta" foi a expressão usada pelo líder da bancada parlamentar do PSD. Estes senhores que ajudaram a derrubar um governo porque havia limites para os sacrifícios pedidos aos portugueses, que prometiam reduzir as gorduras do Estado, que eram o ultimo modelo do liberalismo, falam em "afronta".
Uma afronta ao sentido cívico dos portugueses seria uma figura desprezável como o Ministro Relvas passear-se como se fosse tudo "normal". Não.
O ministro Relvas diz que não podem ter "medo". O sr. ministro que se cuide. A música nunca feriu ninguém mas pode ajudar a derrubar governos. Até já aconteceu por cá e nem há 40 anos.
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