quinta-feira, 24 de maio de 2012

Taça das Nacões

Madrid, 25 de Maio de 2012
Joga-se a final da Taça do Rei mas há quem prefira chamar-lhe Taça das Nações. Porquê?

O título oficial do monarca português era "Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia". É história. O de Juan Carlos de Bourbon é "Sua Majestade o Rei de Espanha, de Castela, de Leão, de Aragão, das Duas Sicílias, de Jerusalém, de Navarra, de Granada, de Toledo, de Valência, da Galiza, da Sardenha, da Córsega, de Córdova, de Múrcia, de Jaen, de Algeciras, das Ilhas Canárias, das Índias Orientais e Occidentais e das Ilhas e Terra Firme do Mar Oceano, Arquiduque de Áustria, Duque de Borgonha, de Brabante (nos Países Baixos), de Milão, de Atenas e Neopatria, Conde de Habsburgo, de Flandres, do Tirol, do Roselão e de Barcelona, Senhor de Biscaia e de Molina". É hoje!

"Espanha" é um conjunto de nações. Como se sabe, este dado histórico tem tido consequências diversas que já passaram por terrorismo, mas que também passam pelas clivagens associadas a identidades clubísticas. Quem se sente mais (ou apenas) catalão ou basco do que espanhol, é natural que considere a Copa del Rey uma oportunidade de manifestação. Há uns anos, o hino foi assobiado na final disputada por Barcelona e Athletic em Valencia. Desta vez, a Final é em Madrid, o que encerra maior simbolismo.

Como Cruijf resumiu, quando o Barcelona vencia um jogo recebiam os parabéns. Quando essa vitoria acontecia frente ao Real Madrid, recebiam agradecimentos.

Diz-se que o poder político ponderou não realizar a Final ou disputá-la sem publico. As leis do Estado Espanhol proíbem ofensas ao hino e à família real. O Presidente do Barça defende o direito dos adeptos "manifestarem os seus sentimentos". Veremos o que acontece.

Pessoalmente, julgo que uma lei que, num Estado de Direito, proíbe os cidadãos de de exprimirem, é um contra-senso. Mesmo se essa liberdade de expressão incide contra a existência desse mesmo estado. Durante a ditadura de Primo de Rivera (há quase cem anos), o Barcelona ficou suspenso durante 6 meses devido a assobios ao hino por parte dos seus adeptos.

Nunca assobiei a Portuguesa mas também nunca me levantei enquanto era tocada num Estádio. Normalmente ficava sozinho nessa atitude mas nunca seria acusado criminalmente por isso. A selecção não deve servir para aproveitamentos políticos. O simples entoar do hino do país é, em si mesmo, um gesto político. Num país de várias nações, mais do que não me levantar, assobiaria um hino e um rei ou príncipe que não considerasse meus. É que o futebol é feito de pertenças, goste-se ou não.

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