sábado, 15 de dezembro de 2012

Messi, Independência e Benfica


1. Com o Barcelona já apurado para a fase seguinte da Champions, o jogo com o Benfica tinha uma importância reduzida para os adeptos culés. Apenas a ameaça de record no número de golos marcados num ano civil poderia aguçar o apetite. Com Messi no banco e o marcador em branco, os adeptos do Barça aproveitaram o apito do árbitro para o intervalo para pedir a entrada do argentino.

Quando Messi saiu para o aquecimento surgiu a primeira ovação da noite. Quando entrou em campo surgiu a segunda. Para um público habituado a assistir a espectáculos, a falta do artista maior é muito sentida.

Perante um atleta de outro planeta, a primeira reacção benfiquista foi dizer-lhe que não teria vida fácil. Luisão disse-o ao virar o argentino numa das primeiras vezes em que tocou na bola.

Mas a prestação de Messi naquela noite foi pouco memorável. Na verdade, se em vez de Messi se chamasse Rafinha, pouco mais do que dois livres sem perigo para Artur ficariam registados.

Mas o nome é Messi e isso ficou bem patente quando o mago procurou driblar Artur e este conseguiu afastar a bola dos pés do argentino, tendo o joelho esquerdo deste embatido no braço esquerdo do goleiro encarnado. O Camp Nou gelou e os insultos a Artur passaram a regra até ao final da partida. Messi abandonou o rectângulo de jogo com uma escolta de apanha-bolas como nunca vi antes. Fez-me lembrar imagens de atentados em que o atingido é levado com escolta especial.

2. O Benfica deslocou-se a Barcelona uma semana e meia após umas eleições autonómicas marcadas pela questão da independência e que resultaram num reforço dos partidos que defendem essa solução.

Neste contexto, as posições do Ministro da Educação do Estado Espanhol são como uma caixa de fósforos  lançada a uma fogueira. O Sr.Wert quer limitar o ensino do catalão nas escolas públicas. Para quem não sabe, a mera utilização do catalão era proibida durante o franquismo! A Constituiçao de 1978 consagra o direito ao ensino do catalão nas escolas públicas, pelo que esta medida constitui um retrocesso de mais de 30 anos, bem em linha com outro tipo de medidas reaccionárias que são impostas um pouco por toda a Europa.

Ao contrário do que possa pensar, o FC Barcelona, apesar de se assumir como símbolo da Catalunha, sempre teve uma postura algo ambígua durante a sua História. Não quanto à sua catalanidade, mas quanto à sua posição relativamente à questão independentista. Apesar da senyera continuar a estar na braçadeira usada pelo capitão de equipa, o clube deixou bem claro que, num cenário de independência, continuaria a disputar a liga espanhola.

Mas as caixas de fósforos tendem a incendiar os palcos mais neutros. A maior ovação que se ouviu durante o primeiro tempo ocorreu quando foi mostrada uma faixa gigante de crítica ao ministro Wert e pela defesa da língua catalã.

3. A equipa principal do Sport Lisboa e Benfica deslocou-se a Barcelona com uma missão complicada. Para garantir o apuramento para os Oitavos-de-Final da Liga dos Campeões, não poderia fazer pior resultado em Barcelona que o Celtic na recepção ao Spartak de Moscovo. O Benfica entrou muito bem, assumindo as rédeas do jogo perante um adversário que poupou a quase totalidade das suas estrelas. Do onze inicial, apenas Puyol é titular de forma regular. Adriano (a central), Song, Thiago Alcântara e Villa estão bem mais habituados ao banco do que ao onze inicial. Os seis restantes só são chamados nestas ocasiões. Alheio às escolhas de Tito Villanova, o Benfica teve várias oportunidades para marcar no primeiro tempo mas não o conseguiu fazer. Ao intervalo, o resumo oficial da UEFA não continha um único lance de ataque do Barça, o que é elucidativo e, muito provavelmente, inédito. O resultado de Glasgow continuou favorável até ao minuto 84. Messi sai da partida de Camp Nou sem alvejar as redes benfiquistas mas Samaras ganha um penalty no Celtic Park. A partir daí, não se viu reacção extra por parte do Benfica. No estádio, nem sequer se percebeu que o Celtic estava já em vantagem no jogo e no apuramento para os Oitavos. Jesus tinha dito que não iria informar os jogadores do resultado do Celtic.

Se o Benfica conseguir fazer um percurso na Liga Europa semelhante ao que fez há duas épocas, quando caíu frente ao Braga nas Meias-Finais, ninguém se recordará do jogo de Camp Nou. Caso contrário, as perdidas de Rodrigo e Lima na primeira parte e de Maxi mesmo ao cair do pano serão tristemente recordados.

Sem comentários: